Nos dias que correm os equívocos acerca da vida no Interior são tão
frequentes que acabam por passar, muitas vezes, despercebidos. Mas um
olhar mais atento, uma audição mais apurada podem proporcionar uma atitude esclarecedora e enriquecedora, quiçá capaz de motivar os mais citadinos a
deslocarem-se ao tão “estranho” Interior.
Há uns anos atrás acabava por me silenciar face a declarações típicas
de quem nunca viveu em aldeias, vilas ou mesmo cidades do interior do país.
Tantas vezes ouvi dizer: “Mas o que se pode fazer nessas aldeias? Como se
sustenta por lá uma família? À custa da horta ou do quintal lá de casa?”.
Outrora esta era a realidade e, actualmente, por força da tão badalada crise, há quem se esforce por retornar aos tempos humildes e fartos da agricultura e
pecuária como profissão banal. A verdade é que o povo do interior também se
actualizou, também se licenciou (talvez em demasia) e vive num mundo actual
e real à proporção daquilo que lhes permitem executar.
Como em qualquer outra situação há bons e maus exemplos. Existem
vilas e cidades do interior que estão irreconhecíveis e que trouxeram
oportunidades de trabalho impensáveis há uns anos atrás. Visitem a Guarda ou
Viseu e se tiverem lá estado há uns 10 anos atrás vão perceber aquilo de que
falo. No entanto, as aldeias e povoados mais pequenos sofrem naturalmente
com esta evolução. É pena, porque há zonas rurais lindíssimas que mereciam
habitantes e turistas dedicados. Não se pode ter tudo e, se ao menos
em “novas cidades” como Trancoso, pudéssemos trabalhar depois de tantos
anos fora a estudar, seria deveras gratificante! A criação de oportunidades
talvez seja possível e constitua a simples solução para que pessoas da terra
não escapem e possam mostrar às famílias e amigos do litoral, a qualidade da
vida no Interior.
Curioso é o facto de eu ter encontrado trabalho também no Interior…mas
no interior alentejano. Talvez possamos acompanhar o Alentejo (tão criticado
pela falta de oportunidades) e transformar a vida simples do interior beirão no
nosso quotidiano.
Cecília Esteves
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